Dizem que as amizades começam pelo interesse, algo que pude
notar depois de adulto, quando lecionava em uma escola pública. Chovia e chovia,
uma tarde barulhenta de verão. Todos os
alunos estavam ilhados em suas salas para não se molharem – ou melhor dizendo,
para não aprontarem na chuva. Alguns grupos aqui e ali, meninos e meninas que
já se conheciam e que aparentam estarem prontos para um novo ano letivo, e eu,
o pobre professor obrigado a ficar na sala para não tacarem fogo, literal e metaforicamente
falando.
Olhando com mais atenção percebo uma menina no meio da sala
olhando para o nada, como se o nada lhe importasse, mas sendo eu eterno aluno
sei o que observa, pois não tem amigos. Observo o seu jeito, parece uma estátua,
paralisada, se não fosse tão melancólica seria
cômica com seu ar durão. A menina olha para trás e tenho que me ajustar
na cadeira para ver o motivo.
Ela está falando com outra menina que senta ao seu lado e
gesticula em direção ao livro que ela carrega. Um pequeno meio sorriso brota
nos lábios da garota com o livro, então ela senta e começa a conversa, uma
conversa fervorosa.
A chuva diminui até que para, possibilitando a minha audição
curiosa sobre o que as duas amigas (?) conversam e percebo com um sorriso no
rosto o que motivou a menina estátua, foi o seu interesse em saber a estória
relatada no livro.
E foi assim que percebi que as amizades começam com um
interesse. Um interesse em uma música, livro, esmalte, tênis ou qualquer outra
coisa que sirva para puxar papo.
O intervalo termina, saio da sala com a doce impressão de que
acabei de presenciar o nascimento de uma amizade.
Rayssa Albuquerque.
Aluna do 9º ano D